segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Genesis 4

Genesis 4

Introdução
Um aspecto terrível do pecado é que ele não pode ser isolado nem obliterado facilmente. Executa progressivamente sua obra devastadora na sociedade, de geração em geração. O pecado de Adão e Eva não causou infortúnio apenas para suas vidas; passou de pai para filho, de época para época. A história no capítulo 4 ilustra dolorosamente este fato e as genealogias ampliam as repercussões do mal por todas as gerações.
Os sacrifícios de Caim e Abel não são descritos como um pagamento pelo pecado ou uma busca de purificação. A palavra usada os designa de forma bastante genérica como "ofertas" - uma palavra que está intimamente relacionada à oferta de cereais, mais tarde instituída em Levítico 2. Essas ofertas aparecem como uma demonstração de gratidão a Deus por sua bondade. Portanto é apropriado que Caim trouxesse uma oferta do produto da terra, uma vez que não era obrigatório o derramamento de sangue nesse tipo de oferta. Deve ser mencionado que Gênesis não apresenta nenhum registro de Deus exigindo esse tipo de oferta, embora Ele a aprovasse como um meio de dizer "obrigado". A gratidão, porém, não é manifestada quando a oferta é feita por inveja, como foi o caso de Caim.





Versos 1-7

Na estrutura geral, esta história é muito semelhante à anterior. Tem um cenário(4.1-5), um ato de violação (4.8), uma cena de julgamento (4.9-15) e a execução da sentença(4.16).A história dos primeiros dois rapazes nascidos a Adão e Eva (1) realça as repercussões do pecado dentro da unidade familiar. Os rapazes, Caim e Abel (2), tinham temperamentos notavelmente opostos. Caim gostava de trabalhar com plantas cultiváveis. Abel gostava de estar com animais vivos. Ambos tinham uma disposição de espírito religioso.
Os filhos de Adão levaram sacrifícios ao SENHOR (3), o primeiro incidente sacrificial registrado na Bíblia.
Que Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura (4) não quer dizer necessariamente que animais são superiores a plantas para propósitos sacrificais. Por que atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta (5) fica evidente à medida que a história se desenrola.
A primeira pista aparece quase imediatamente. Caim não suportava que algum outro ficasse em primeiro lugar. A preferência do Senhor por Abel encheu Caim de raiva. Só Caim podia ser o “número um”.
O Senhor não estava ausente da hora da adoração. Ele abordou Caim e lhe deu um aviso. Deus não o condenou diretamente, mas por meio de um jogo de palavras informou Caim que ele estava em real perigo. Em hebraico, a palavra aceitação (7) é, literalmente, “levantamento”, e está em contraste com descaiu (6). Um olhar abatido não é companhia adequada de uma consciência pura ou de uma ação correta. O ímpeto das perguntas de Deus era levar Caim à introspecção e ao arrependimento.
Se Caim tivesse feito bem (7), com certeza Deus o teria graciosamente recebido. Mas, e se Caim não tivesse feito bem? Esta era a verdadeira questão que Caim ignorava, pois ele lançava a culpa em Abel. A ameaça à sua vida espiritual não estava longe. O pecado estava bem do lado de fora da porta, pronto para levar Caim à ruína.
Precisamos examinar duas palavras no versículo 7. Apalavra traduzida por pecado (.hatt’at) pode significar pecado ou oferta pelo pecado. A última opção está fora de questão, porque a presença fora da porta não parece ser útil; é sinistra. Apalavra jaz (robesh) é um substantivo verbal. O problema para o tradutor é: Esta palavra serve de verbo, jaz, ou de substantivo, dando o sentido: “O pecado está de tocaia”?
E. A. Speiser destaca que o acádio, uma das origens do hebraico bíblico, tem basicamente a mesma palavra, rabishum (note que as primeiras três consoantes são as mes­mas), que significa “demônio”. Esta história bíblica vem do mesmo local geográfico; assim, se considerarmos que robesh é um empréstimo do acádio, a solução está à mão.O texto descreve o pecado como um demônio malévolo, pronto para se lançar sobre Caim se este sair da presença de Deus sem se arrepender. Deus graciosamente ofereceu a Caim o poder de vencer o pecado: Sobre ele dominarás.
A última porção do versículo 7 pode ser parafraseada: “Tu deixaste o fogo da raiva arder por dentro; por conseguinte, quando tu deixares meu domicílio, o pecado te tomará. E melhor dominares a raiva para que a destruição não te vença”.
Mas Caim saiu da presença de Deus e a raiva se transformou em ciúme, o qual, por sua vez, se tornou em ódio assassino junto com um plano ardiloso. No campo, um dia a ação má foi executada — Caim... matou (8) Abel deliberadamente e sem provocação.

Versos 8-16
Mas Caim não pôde evitar o SENHOR (9). Logo se desenvolveu a cena de julgamen­to. A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra (10) é vívida expressão idiomática que significa: “Tu podes tentar esquecer teu ato de violência, mas eu não posso. O que quer que aconteça com meus filhos é questão de preocupação pessoal para mim”. O privilégio de cultivar a vida vegetal foi tomado de Caim e ele foi banido para o deserto, a fim de ser fugitivo e errante (12).
A exposição do seu pecado mudou Caim. O ódio arrogante se tornou em medo covarde misturado com autopiedade. Ele estaria suscetível do mesmo destino que desferiu ao irmão. Não pôde nem suportar o pensamento. Mas Deus não escarneceu dele. Mais uma vez sua misericórdia suavizou o castigo. Pôs o SENHOR um sinal em Caim (15).
Assim, Caim partiu para enfrentar uma vida totalmente nova, longe de Deus. A designação  terra de Node (16) significa “terra de vagueação”, e não parece ser o nome de uma região específica que não seja sua direção geral para a banda do oriente do Éden.
De 4.2-9, G. B. Williamson analisa “Caim e Abel”. 1) A diferença nos homens — até entre irmãos, 2b,5b,6,8,9; 2) A diferença significativa nas suas ofertas, 3-5a (cf. Hb 11.4); 3) Eis uma revelação da bondade e severidade de Deus.
O estilo de vida nômade e peregrino imposto a Caim representa um dos principais aspectos econômicos da sociedade antiga. Assim que os animais foram domesticados, por volta de 8000 a.C., o pastoreio nômade tornou-se o principal empreendimento econômico para as tribos e vilas. Os rebanhos, de modo geral, faziam parte da economia mista das aldeias, que incluía a agricultura e o comércio. Entretanto, alguns grupos concentravam mais seus esforços em conduzir rebanhos de ovelhas e cabras a novas pastagens, conforme as estações mudavam. Esses pastores seminômades seguiam rotas de migração específicas, que garantiam água e pastos adequados a seus animais. Às vezes, os pastores faziam contratos com os vilarejos ao longo da rota, a fim de pastorear os rebanhos nos campos onde a colheita já havia sido feita. Esses pastores geralmente entravam em atrito com as comunidades locais já estabelecidas por causa do direito sobre o uso das águas ou por causa de invasões. Os governos tentavam controlar os grupos nômades dentro de sua área, mas essas tentativas, após longos períodos, saíam frustradas. Como resultado dessa situação, surgiram várias histórias que descrevem os conflitos entre pasto­res e agricultores, à medida que competiam pelo uso da terra.
Ainda em gênesis 4.14, 15. vingança de sangue. Nas áreas onde o go­verno central não havia estabelecido total controle, era comum haver rixas de sangue entre as famílias. Essas rixas eram baseadas no princípio simples do "olho por olho", que exigia a morte de um assassino ou de um membro de sua família, em restituição à vítima. Existia também a premissa de que os laços de sangue incluíam a obrigação de defender a honra da família. Nenhuma ofensa podia ser ignorada, pois havia risco da família ser considerada fraca demais para se defender e outros grupos se aproveitariam disso. O comentário de Caim dá a entender que a família era maior, e que alguém da linhagem de Abel iria atrás de vingança.
4.15. o sinal de Caim. A palavra hebraica usada aqui não indica que esse sinal fosse uma tatuagem ou mutilação, geralmente infligidas a escravos ou criminosos (mencionadas nas Leis de *Esnuna e no Código de *Hamurabi). Compara-se melhor à marca da proteção divina colocada na testa dos inocentes em Jerusalém, citada em Ezequiel 9.4-6. Pode ser um sinal externo, que levaria outros a tratá-lo com respeito ou cuidado, mas pode também representar um sinal de Deus a Caim, de que ele não seria ferido e as pessoas não iriam atacá-lo.A linhagem de Caim

4.17-26 a construção da cidade. Visto que no mundo antigo a fundação de uma cidade está intimamente ligada à formação de um povo ou de uma nação, histórias sobre o fundador e as circunstâncias da fundação fazem parte da herança básica de seus habitantes. Essas histórias geralmente incluem uma descrição dos recursos naturais que atraíram o construtor (reservatórios de água, pastos e terra para agricultura, defesas naturais), os atributos especiais do construtor (força descomunal e/ou sabedoria) e a orientação do deus protetor. As cidades eram construídas ao longo ou nas proximidades dos rios e nascentes. Elas serviam como pontos estratégicos para o comércio e atividades culturais e religiosas, abrangendo com o tempo uma área maior, tomando-se centros políticos ou cidades-Estado. A estrutura necessária para sua construção e depois para a manutenção de suas paredes feitas de tijolos de barro, contribuiu para o surgimento das assembléias de anciãos e monarquias para governá-las.
No verso 19 fala-nos da poligamia, prática que permite ao homem casar-se com mais de uma mulher.Esse costume era baseado em diversos fa­tores: (1) um desequilíbrio no número de homens e mulheres, (2) a necessidade de gerar muitos filhos para ajudarem no pastoreio e nos campos, (3) o desejo de aumentar o prestígio e as riquezas por meio de numerosos contratos de casamento e (4) a alta taxa de mortalidade entre as parturientes. A poligamia era mais comum entre os grupos nômades de pastores e nas comunidades rurais, onde era importante que as mulheres estivessem ligadas a alguma família e fossem produtivas. Os monarcas também praticavam a poligamia, prioritariamente como um meio de estabelecer alianças com famílias poderosas ou com outras nações. Nessas situações, as esposas muitas vezes tornavam-se reféns, no caso das relações políticas se deteriorarem.
4.20. domesticação de animais. Criar gado é o primeiro estágio da domesticação de animais, que envolve o controle humano da reprodução, do suprimento de alimentos e das terras. Ovelhas e cabras foram os primeiros rebanhos a serem domesticados, com evidências que remontam ao nono milênio a.C.. Ani­mais de porte maior vieram um pouco mais tarde e os registros de domesticação de suínos remontam ao sétimo milênio.
4.21. instrumentos musicais. Os instrumentos musicais surgiram nos primórdios, constando entre as primeiras invenções do homem. No Egito, as primeiras flautas de sopro datam do quarto milênio a.C.. Uma série de harpas e liras, bem como um par de flautas de prata foram encontradas no cemitério real em *Ur, datando do início do terceiro milênio. Flautas de osso ou cerâmica remontam pelo menos ao quarto milênio. Os instrumentos musicais eram uma fonte de entretenimento, além de garantirem o ritmo para as danças e rituais, tais como procissões e dramatizações cultuais. Além dos instrumentos de percussão (pandeiros e cho­ calhos), os instrumentos mais comuns usados no antigo Oriente Próximo eram as harpas e as liras. Foram encontrados modelos desses instrumentos em escavações de sepulturas e também pintados em paredes de templos e palácios. São descritos na literatura como uma maneira de acalmar o espírito, invocar os deuses e dar cadência para a marcha de um exército. Os músicos tinham suas próprias corporações e eram altamente respeitados.
4.22.metalurgia antiga. Como parte do relato do surgimento de trabalhos e técnicas artesanais na genealogia de Caim, é natural que se mencione a origem da metalurgia. Textos *assírios mencionam Tabal e Musku como as primeiras regiões de fabricação de metal, nas montanhas Taurus (leste da Turquia). Ferramentas de cobre, armas e utensílios começaram a ser fundidos e forjados no quarto milênio a.C.. Subseqüentemente, as ligas de cobre, e principalmente as de bronze, foram introduzidas no terceiro milênio, à medida que foram descobertas jazidas de estanho fora do Oriente Próximo e as rotas de comércio foram expandidas para transportá-las para o Egito e Mesopotâmia. O ferro, por ser um metal que exige temperaturas muito mais elevadas e uso de foles (retratados nas pinturas do túmulo egípcio de Beni Hasan) para fundição e manufatura, foi o último a ser introduzido, já no final do segundo milênio a.C.. Ferreiros *hititas parecem ter sido os primeiros a explorá-lo e a partir daí a técnica espalhou-se para o leste e para o sul. Os meteoritos, compostos de ferro, foram forjados a frio durante séculos, antes da fundição do ferro propriamente dita. Isso não representaria uma fabricação tão grande como a de fundição de depósitos terrestres, mas explicaria algumas das pri­meiras menções ao ferro, anteriores à *Idade do Ferro.
Ainda nesses versos fala-se da genealogia e da nova expansão dos seres humanos.
A importância de Caim foi exaurida, e a linhagem de sua posteridade rebelde é incompletamente apresentada em forma genealógica abreviada.
A esposa de Caim foi, implicitamente, uma irmã (cf. 5.4) que partiu com ele para o exílio. Caim começou a construir uma habitação fortalecida, uma cidade (17), e orgulhosamente a chamou de Enoque, o nome do seu primeiro filho. A procura de Caim e seus filhos por segurança estava simbolizada pela construção de muros pesados, a procriação de muitos filhos com esposas múltiplas e o poder da perícia profissional, do armamento e do ódio. O primeiro poema da Bíblia (23,24) serve de ilustração da amargura feroz que envenenou o espírito destes homens. O significado do versículo 23 é: “Matei um homem [meramente] por me ferir e um jovem [só] por me golpear e me ferir” (BA). Alcançaram o pico da habilidade e realização, mas também se chafurdaram nas profundezas do mal.
D. A Expansão de um Novo Começo, 4.25—6.8
No Livro de Gênesis, as linhas de pensamento ou grupos de indivíduos menos importantes recebem pouca atenção para logo serem descartados. O interesse é focalizado nas doutrinas ou pessoas que são centrais aos procedimentos redentores de Deus com o homem.
1. O Terceiro Filho de Adão (4.25,26)
O rapaz que substituiu o Abel assassinado recebeu um nome bem adequado. Sete (25) significa “designado ou colocado”, o que indicava a misericórdia de Deus. Ele deu a Adão e Eva um filho que preservaria a fé no único Deus verdadeiro. Foi nesta família que o fogo da verdadeira adoração foi luminosamente mantido aceso. Aqui estava a base para a esperança de que a piedade era possível entre os homens.


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