sábado, 15 de fevereiro de 2014

Apocalipse 1

Apocalipse capitulo 1

1:1-8. Embora a idéia exata de cartas às sete igrejas não se encontre realmente no capítulo 1, no versículo 4 temos a frase, João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, e mais adiante (v. 11) João recebe a ordem de escrever o que ele vê e enviá-lo às sete igrejas.
O capítulo 1 contém uma revelação rica, quase ofuscante do próprio Jesus Cristo. Os versículos 4-8 apresentam três descrições básicas de Cristo. Parece que João descreve o Cristo que ele conhece, pois não há nenhuma indicação de que ele recebesse aqui alguma revelação especial. Este é o Cristo do passado, do presente e do futuro, conforme apresentado na frase, daquele que é, que era, e que há de vir (v. 4). No passado, Cristo foi a fiel testemunha e o primogênito dos mortos; no presente, Ele é àquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados (v. 5); no futuro, vem com as nuvens e todo olho o verá ... e todas as tubas da terra se lamentarão sobre ele (v. 7). A declaração de que Cristo nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus (v. 6) é a declaração básica de Êx. 19:6, séculos mais tarde citada por Pedro (I Pe. 2:5, 9). A passagem referindo-se ao futuro tem dupla referência no V.T.: em Dn. 7:13 o Filho do homem é descrito vindo com as nuvens, e o fato de que todos o verão está em Zc. 12:10, 12. A palavra aqui traduzida para traspassaram aparece em outra passagem do N.T. apenas em Jo. 19:37 (cons. Zc. 12:10).
Sempre achei que a frase, o soberano dos reis da terra (1:5), é o título-chave para Cristo no livro do Apocalipse. Muitos outros reis são mencionados neste livro: reis de nações que saíram para lutar contra o Cordeiro, o rei do abismo, etc. Não há nenhuma indicação até o final do livro de que os reis da terra reconheçam Cristo como o Rei dos reis. Na verdade, o livro do Apocalipse é quase um registro do cumprimento deste título de Cristo com a final preeminência para a qual o título aponta.
Algumas palavras nos chamam atenção como por exemplo a palavra Revelação do verso 1 essa palavra no grego é APOKALYPSIS que significa descoberta,aparição vinda,acender,manifestação,tirar o véu ou desvendar.
No verso 2 ele usa a expressão palavra que no grego é LOGOS que,quer dizer verbo João no evangelho começa usando essa frase no princípio era o LOGOS.
Outra palavra que me chama atenção está no verso 6 que é a palavra SACERDOTE,no grego é HIEREUS que quer dizer sagrado ou alguém separado para fazer ritos sagrados em geral eram descendentes de Arão.




Versos 9,20

1. Um homem que tem comunhão e intimidade com os crentes da Ásia
• Ele se autodenomina irmão e companheiro. João não se sente melhor do que os demais irmãos nem se enaltece por ter recebido uma alta revelação (2 Co 12:17).
• A condição de porta-voz de Deus não anula a condição de irmão, co-igual.
2. Um homem que participa das alegrias e provas com a igreja
a) Tribulação - A tribulação é o quinhão do povo de Deus nesta era (Jo 16:33; At 14:22). A igreja está no meio do conflito entre o Reino de Deus e o Reino das trevas.
A igreja sempre foi e será atribulada no mundo. Em Mateus 24 Jesus fala desse sofrimento de forma crescente: Os v. 4-8 descrevem o "princípio das dores", os v. 9-14 os "tormentos" na forma de perseguição aos discípulos, os v. 15-28 a "grande tribulação" como o auge, e os v. 29-31 os episódios "após a tribulação” que culminam
na segunda vinda de Cristo. As perseguições desencadeiam traição e apostasia na igreja (Mt 24:10-12). Essa perseguição já havia começado no banimento do apóstolo.
b) Reino - A igreja é o povo sobre o qual o Reino já veio e que herdarão o Reino
quando ele vier na sua plenitude; mas nesta posição a igreja é o objeto do ódio satânico, destinada a sofrer perseguição.
c) Perseverança em Jesus - Por causa desta perseguição e males nós precisamos ter
uma perseverança triunfadora. "Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo" (Mt 24:13). Ainda não chegou o que havemos de ser. Ainda aguardamos o triunfo final. Nossos olhos estão fixados no Rei que vem. Somos a noiva que espera o
noivo. Vivemos em grande expectativa! Todas essas dificuldades, entretanto, nós experimentaremos em Jesus, em união espiritual com ele. Só existe um caminho entre tribulação e o Reino, entre aflição e a glória, e este caminho é a paciência ativa.
II. AS CIRCUNSTÂNCIAS SÃO DESCRITAS - V. 9-11
1. O local é identificado
• João foi banido para a ilha de Patmos, uma colônia penal romana, onde se exilavam
prisioneiros políticos. Ali esses prisioneiros perdiam todos os seus direitos civis e toda
possessão material. Os prisioneiros eram obrigados a trabalhar nas minas daquela ilha,vestindo-se de trapos. A ilha ficava no Mar Egeu e tinha 16 km de comprimento por 10 km de largura, uma ilha nua, vulcânica, com elevações de até 300 metros.
2. A razão do exílio é declarada
• João é preso na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo (v. 9). Possivelmente João foi acusado de subversão pelo governador da
Ásia por pregar o Evangelho e testemunhar do senhorio de Cristo, num tempo em que o imperador Domiciano arrogava para si o título de Senhor e Deus. João é condenado a sofrer humilhações, prisão, fome e trabalhos forçados por amor à Palavra de Deus.
3. A forma da revelação é descrita
• João achou-se em espírito. Apesar de João estar fisicamente em Patmos, naquele dia
do Senhor, achou-se também em espírito. A ilha do exílio transforma-se em porta do céu. Em Patmos ele enfrentou a dor do exílio, mas em espírito ele entrou na sala do trono. Em Patmos nós sofremos, mas em espírito, nós reinamos. Deus transforma nossas tragédias em triunfos gloriosos. Em Patmos João tocou o outro mundo. Não importa as circunstâncias, se você está no palácio ou na favela. O todo-poderoso pode sempre nos tocar e nos levar ao seu trono. O lugar do exílio tornou-se a ante-sala da
glória. Ilustração: com o banimento Roma conseguiu resultado exatamente oposto - A rainha da Inglaterra em 1553 a 1558.
4. A revelação é dada para ser transmitida
• João recebeu esta revelação no dia do Senhor, dia que a igreja celebra a vitória do seu Senhor sobre a morte e também o dia da esperança, que dirigia seus sentidos para a consumação e a renovação do mundo. Na solidão da ilha, isolado e exilado João ouve uma voz. Roma pôde até proibir João de ter contato com os seus irmão perseguidos,
mas não pôde proibir João de ter contato com o trono de Deus. O mundo não pode proibir o nosso contato com o céu.
• João ouve a voz por detrás dele grande voz como de trombeta - A visão começa com uma audição. Por trás para que João não fosse confundido com vozes paralelas (Is30:21). A trombeta fala de uma voz sobrenatural, poderosa, assustadora.
• O que vês escreve em livro - A mensagem precisa ser registrada fielmente e perpetuamente. Essa ordem percorre todo o livro (2:8,12;
3:1,7,14;10:4;14:13;19:9;21:5). Isso eleva essa profecia a uma categoria normativa para toda a igreja em todos os tempos.
• Todo o plano de Deus deve ser escrito - O verso 19 fala de coisas passadas, presentes e futuras. O livro de Apocalipse é atual em todo o tempo. Ele descreve o que já foi, o que é e o que há de vir.
• Envia para as sete igrejas - Essas cidades eram sedes administrativas e já por isso
áreas de concentração do culto ao imperador.
III. A VISÃO É APRESENTADA
1. João tem a visão da Noiva de Cristo como a luz do Mundo - v. 12
• Antes de ter a visão do Cristo exaltado, ele teve a visão da igreja. O mundo vê Cristo
através da igreja e no meio da igreja. Isso significa que ninguém verá a Jesus em glória
senão por meio da sua igreja aqui na terra. Você precisa da igreja. Precisa se
congregar. O que é a igreja? Ela é a luz do mundo. Por isso, ele é candeeiro e estrela.
• João vê a igreja em duas figuras: sete estrelas e sete candeeiros. Tanto a estrela como
o candeeiro são luzeiros. Eles devem refletir luz. A igreja é a luz do mundo. Ela
resplandece no mundo. Se uma lâmpada deixasse de proporcionar luz ela era afastada
(2:5). A luz da igreja é emprestada ou refletida, como a da lua. Se as estrelas têm de
brilhar e as lâmpadas luzir, elas devem permanecer na mão de Cristo e na presença de
Cristo.
• Os sete candeeiros são as sete igrejas, mas o que são os sete anjos (v. 16,20)? Anjos
celestes, mensageiros, pastores ou uma figura da própria igreja? Hendriksen pensa que
anjos aqui são os pastores. Mas este livro usa a palavra "anjos" 67 vezes e em
nenhuma delas refere-se a seres humanos. Assim George Ladd entende que tanto os
candeeiros como as estrelas falam da igreja como luzeiros de Deus no mundo. Cristo
está não apenas entre a igreja, mas a têm em suas próprias mãos. Essas duas figuras,
portanto, são um símbolo incomum para representar o caráter celestial e sobrenatural
da igreja, seja através dos seus membros, seja através dos seus líderes.
2. João tem a visão do Noivo na sua glória excelsa - v. 13-18
• João vê dez características distintas do Noivo da igreja em sua glória e majestade:
1) Suas Vestes (v. 13) - Falam de Cristo como Sacerdote e Rei. Ele nos conduz a Deus e reina sobre nós.
2) Sua Cabeça (v. 14) - Falam da sua divindade, da sua santidade e da sua eternidade.
3) Seus Olhos (v. 14) - Falam da sua onisciência que a tudo vê e perscruta. Ele é o juiz
diante de quem tudo se desnuda.
4) Seus Pés (y.,1.5) - Isso fala da sua onipotência para julgar os seus inimigos.
Convém que ele reine até que ponha todos os seus inimigos debaixo dos seus pés (1
Co 15:23).
5) Sua Voz (v. 15) - Isso fala do poder irresistível da sua Palavra, do seu julgamento.
No seu juízo desfalecem palavras humanas. A voz de Cristo detém a última palavra e é
a única a ter razão.
6) Sua Mão (v. 16) - A mão direita é a mão de ação, com a qual age e governa. Isso
mostra o seu cuidado com a igreja. Ninguém pode arrebatar você das mãos de Cristo
(Jo 10:28).
7) Sua Boca (v. 16) - Essa Palavra aqui não é o Evangelho, mas a Palavra do juízo. A
única arma de guerra usada pelo Cristo conquistador no capítulo 19 é a Espada que
saía da sua boca (19:5). Essa é a cena do tribunal, onde é proferida a sentença judicial,
e precisamente sem contestação.
8) Seu Rosto (v. 16) - A visão agora não é mais de um Cristo servo, perseguido, preso,
esbofeteado, com o rosto cuspido, mas do Cristo cheio de glória. A luz do sol supera o
brilho dos candeeiros.
9) Sua Perenidade - O Primeiro e o Último (v. 17) - Ele é o criador, sustentador e
consumador de todas as coisas. Ele cria, controla, julga e plenifica todas as coisas.
Cristo aqui é enaltecido como vitorioso sobre o último inimigo, a morte.
10) Sua Vitória Triunfal (v. 18) - João está diante do Cristo da cruz, que venceu a
morte. Ele não apenas está vivo, mas está vivo para sempre. Ele não só ressuscitou, ele
venceu a morte e tem as chaves da morte e do inferno. Quem tem as chaves tem
autoridade. Jesus recebeu do Pai toda autoridade no céu e na terra (Mt 28:18). Jesus
tem não apenas a chave do céu (3:7), mas também a chave da morte (túmulo). Agora a
morte não pode mais infligir terror, porque Cristo está com as chaves, podendo abrir os
túmulos e levar os mortos à vida eterna.
• Esse parágrafo pode ser sintetizado em três aspectos: 1)0 que João ouviu (v. 9-11); 2)
O que João viu (v. 12-16) e o que João fez (v. 17-18). Os dois primeiros pontos já
foram analisados. Vejamos agora, na conclusão, o último, o que João fez.
• A reação de João diante da visão do Cristo da glória:
Profundo quebrantamento (v. 18) - "Quando o vi, cai a seus pés como morto". O mesmo João que debruçara no peito de Jesus, agora cai aos seus pés como morto.
Isaías, Ezequiel, Daniel, Pedro e Paulo (Is 6:5; Ez 1:28; Dn 8:17; 10:9,11; Lc 5:8; At 9:3-4) passaram pela mesma experiência ao contemplarem a glória de Deus. Em nossa carne não podemos ver a Deus, pois ele habita em luz imarcescível (1 Tm 6:16). É impossível ver a glória do Senhor sem se prostrar. Ilustração: as pessoas que dizem cair diante da glória de Deus e se levantam do mesmo jeito.
2. Gloriosamente restaurado (v. 18) - Jesus toca e fala. A mesma mão que segura (v.16), é a mão que toca e restaura (v. 18). O mesmo Jesus que acalmou os discípulos
muitas vezes, dizendo-lhes, não temas, agora diz a João: Não temas. A revelação da graça de Jesus o põe de pé novamente para cumprir o seu ministério.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Apocalipse



Estudo sobre o livro de Apocalipse


Introdução


 1. O livro de Apocalipse é um livro sobre Jesus e sua igreja.
2. É um livro de revelação. O véu é retirado e nos é dado discernimento de
determinadas coisas. Essa revelação é feita por meio de sinais: candeeiros, selos,trombetas, taças. Usa também números: o número sete aparece 54 vezes.
3. Lemos nos capítulos 1:12,13,20 e 5:5 que tanto a igreja como a história estão sob total o controle de Jesus Cristo. A história não caminha para o caos nem está dando voltas cíclicas, mas caminha para um fim glorioso da vitória completa de Cristo e da igreja.
4. O propósito ao estudarmos o livro de Apocalipse não é para nos aproximarmos dele com curiosidade frívola, como se estivéssemos com um mapa profético nas mãos, para investigar fatos históricos para sabermos os tempos no relógio profético. Ao contrário, esse livro nos foi dado como propósitos morais e espirituais: CONSOLAR-NOS, "MOSTRAR, O ÂMAGO DA LUTA QUE ESTAMOS TRAVANDO CONTRA O MUNDO E O DIABO E A VITÓRIA RETUMBANTE DE CRISTO.
5. O estudo do Apocalipse deve nos incentivar à santidade; encorajamento no sofrimento; adorar àquele que está no trono (2 Ped 3:12).
6. Aqueles que se aproximam desse livro com uma obsessão escatológica, perdem a sua mensagem. O livro é prático e revela-nos: 1) A certeza de que Jesus tem o total controle da igreja; 2) Jesus tem o total controle da História; 3) A perseguição
do mundo e do diabo não podem destruir a igreja; 4) Os inimigos que perseguem a igreja serão vencidos; 5) Os inimigos de Cristo terão que enfrentar o juízo de Deus ao mesmo tempo que a igreja desfrutará da bem-aventurança eterna.

I. COMO ESTUDAR O LIVRO DE APOCALIPSE
1. Qual é o propósito deste livro?
Seu propósito principal é confortar a igreja militante em seu conflito contra as
forças do mal. O livro está cheio de consolações para os crentes afligidos. A eles é dito:
a) Que Deus vê suas lágrimas — 7:17; 21:4
b) Suas orações produzem verdadeiras revoluções no mundo - 8:3-4
c) Sua morte é preciosa aos olhos de Deus -14:13
d) Sua vitória é assegurada - 15:2
e) Seu sangue será vingado - 6:9; 8:3
f) Seu Cristo governa o mundo em seu favor - 5:7-8
g) Seu Cristo voltará em breve - 22:17

2. Qual é o tema deste livro?
a) O tema do livro de Apocalipse é a vitória de Cristo e de sua igreja sobre Satanás e seus seguidores (17:14). A intenção do livro é mostrar que as coisas não são como parecem ser. O diabo, o mundo, o anticristo, o falso profeta e todos os ímpios perecerão, mas a igreja triunfará. Cristo é sempre apresentado como Vencedor e conquistador (1:18; 5:9-14; 6:2; 11:15; 19:9-11; 14:1,14; 15:2-4; 19:16; 20:4; 22:3.
Jesus triunfa sobre a morte, o inferno, o dragão, a besta, o falso profeta, a babilônia e os ímpios.
b) A igreja que tem sido perseguida ao longo dos séculos, mesmo suportando martírio é vencedora (7:14; 22:14; 15:2).
c) Os juízos de Deus mandados para a terra são uma resposta de Deus às orações dos santos (8:3-5).
3. Para quem foi destinado este livro?
a) Este livro foi inicialmente endereçado aos crentes que estavam suportando o martírio na época do apóstolo João. Houve grandes perseguições nos primeiros séculos
contra a igreja: 1) Nero (64 d.C); 2) Domiciano (95 d.C); 3) Trajano (112 d.C); 4)Marco Aurélio (117 d.C); 5) Sétimo Severo (fim do segundo século); 6) Décio (250d.C); 7) Diocleciano (303 d.C).
b) Este livro foi destinado não apenas aos seus primeiros leitores, mas a todos os crentes durante esta inteira dispensação, que vai da primeira à segunda vinda de Cristo.
4. Quando foi escrito este livro?
a) Este livro foi escrito por João quase no final do governo de Domiciano, quando foi banido para a Ilha de Patmos.
II. COMO INTERPRETAR O LIVRO DE APOCALIPSE
• Há três escolas de interpretação do livro de Apocalipse:
1. A interpretação preterista -
• Tudo o que é profetizado no livro de Apocalipse já aconteceu. O livro narra apenas às perseguições sofridas pela igreja pelos judeus e imperadores romanos. O livro cumpriu seu propósito de fortalecer e encorajar a igreja do primeiro século.
• Essa corrente falha em ver o livro como um livro profético, pertinente para toda a história da igreja.
2. A interpretação futurista
• Tudo o que é profetizado no livro a partir do capítulo 4 tem a ver com os últimos dias
sem nenhuma aplicação na história da igreja. Também essa escola não faz justiça ao livro que foi uma mensagem atual, pertinente e poderosa para todos os crentes em
todas as épocas.
• Esse livro não tinha nenhum conforto para os crentes primitivos nem para nós.
• Transfere o Reino de Deus para o futuro milenar, enquanto sabemos que o Reino já
veio e estamos no Reino.
3. A interpretação histórica -
• O livro de Apocalipse é uma profecia da história do Reino de Deus desde o primeiro
advento até o segundo.
• O livro é rico em símbolos, imagens e números: ele está dividido em sete seções
paralelas progressivas: sete candeeiros, sete selos, sete trombetas e sete taças.
• Agostinho, os Reformadores, as confissões reformadas e a maioria dos grandes
teólogos seguiram essa linha.
III. COMO ENTENDER A DIVISÃO DO LIVRO DE APOCALIPSE
1. A corrente Pós-Milenista
• Crê que o mundo vai ser cristianizado e que teremos um grande e poderoso
reavivamento e o crescimento espantoso da igreja ao ponto da terra encher-se do
conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar (Hc 2:4).
• Essa corrente foi forte no século XVIII e XIX quando as missões estavam em franca
expansão. Homens como Jonathan Edwards, Charles Hodge e Loraine Boetner foram
defensores do Pós-Milenismo. Muitos missionários foram influenciados por esta
interpretação, bem como muitos hinos foram escritos inspirados por esta visão.
• Essa corrente deixa de perceber que antes da vinda de Cristo estaremos vivendo um
tempo de crise e não um tempo de despertamento espiritual intenso e universal.
2. A corrente Pré-Milenista
• Os Pré-Milenistas históricos ou moderados distinguem dos amilenistas em poucos
aspectos: Reino e ressurreição.
• Porém os Pré-Milenistas dispensacionalistas ou extremados têm vários ensinos
estranhos às Escrituras:
a) Distinção entre Igreja e Israel no tempo e na eternidade
b) O Reino de Deus adiado para o Milênio terreno
c) A crença num arrebatamento secreto, seguido de uma segunda vinda visível
d) A idéia de que a igreja não passará pela grande tribulação (a igreja será poupada da
ira de Deus (thymos e orge), mas não da tribulação (thlipsis). A tribulação não é a ira
de Deus contra os pecadores, mas, sim, a ira de Satanás, do anticristo e dos ímpios
contra os santos. (Gundry).
e) A idéia que teremos várias ressurreições
f) A idéia de que haverá chance de salvação depois da segunda vinda de Cristo.
3. A corrente Amilenista ou Espiritual -
• O livro de Apocalipse deve ser visto não como uma mensagem que registra os fatos
em ordem cronológica, mas temos no livro sete seções paralelas e progressivas.
• Cada seção descreve todo o período que compreende da primeira à segunda vinda.
Cada sessão descreve uma cena do fim.
• A cena do fim vai ficando cada vez mais clara e até chegar ao relato apoteótico da
última sessão.
• Essas sete seções estão divididas em dois grandes períodos (1-11) e (12-22). A
primeira descreve a perseguição do mundo e ímpios e a segunda a perseguição do
dragão e seus agentes.
3.1) Primeira Seção (1-3) - Os sete candeeiros
• Qual é a lição dessa seção? É que Cristo tem o controle da igreja em suas mãos.
• Encontramos aqui Jesus uma descrição do Cristo que morre, ressuscita e vai voltar
(1:5-7).
• A morte e ressurreição de Cristo é o começo da era cristã, e o juízo final é o término
da era cristã
3.2) Segunda Seção (4-7) - Os sete selos
• Qual é a mensagem dessa seção? É que ele tem o controle da história em suas mãos
(5:5). Contemplamos sua morte (5:6), mas essa seção encerra com uma cena da
segunda vinda de Cristo (6:6-12 e 7:9-17).
• Notemos a impressão produzida nos incrédulos pela segunda vinda (6:16-17) . Agora
a felicidade dos salvos (7:16-17).
• A segunda seção é uma reiteração da primeira seção. Sua revelação vai do princípio
ao fim dos tempos, ao juízo final. E nos é mostrado a diferença entre os remidos e os
perdidos.
3.3) Terceira Seção (8-11) - As sete trombetas
• Nesta visão vemos a igreja vingada, protegida e vitoriosa.
• Havendo começado com o Senhor como nosso sumo sacerdote no capítulo (8:3-5),
avançamos até o juízo final em (10:7; 11:15-19).
• Uma vez mais estamos tratando das mesmas coisas - O senhor e sua igreja e o que
lhes sucede no mundo, o juízo final, os redimidos e os perdidos.
• As trombetas são avisos antes do derramamento completo das taças da ira de Deus.
Antes de Deus punir finalmente, ele sempre avisa.
3.4) Quarta Seção (12-14) - A tríade do mal
• Novamente voltamos ao início, ao nascimento de Cristo (12:5). Depois vem a
perseguição do Dragão a Cristo e à igreja (12:13). Ele levanta a besta e o falso profeta.
Finalmente, vem a cena do juízo final (14:8).
• Em (14:14-20) há uma cena clara do juízo final.
3.5) Quinta Seção (15-16) -As sete taças • Descreve as sete taças da ira, representando a visitação final da ira de Deus sobre os
que permanecem impenitentes.
• Uma vez mais a cena começa no céu relatando o Cordeiro com seu povo. Mas no
capítulo 16 vemos uma espantosa descrição do juízo (16:15,20).
• Aqui a destruição é completa.
3.6) Sexta Seção (17-19) - A derrota dos agentes do Dragão
• Há um relato da destruição dos aliados do Dragão: A meretriz (18:2), a besta e o falso profeta, os seguidores da besta e em contrapartida a igreja é apresentada como
esposa de Cristo (19:20). A grande festa da núpcias ocorre; o juízo final chegou outra
vez e a uma grande distinção entre redimidos e perdidos ocorre novamente. No
capítulo 19 há uma descrição detalhada da gloriosa vinda de Cristo (19:11-21).
3.7) Sétima Seção (20-22)
• Essa seção mostra o Reinado de Cristo com as almas do santos no céu e não o
milênio na terra depois da segunda vinda. O capítulo 20 começa na primeira vinda e
não depois da segunda vinda. Então temos a descrição do juízo final (20:11-15). Após
isso, vemos os novos céus e a nova terra e a igreja reinando com Cristo para sempre.
CONCLUSÃO
• Apesar de essas seções serem paralelas, elas são também progressivas. A última
seção leva-nos mais além para o futuro que as outras. Apesar do juízo final já ter sido
anunciado em (1:7) e brevemente descrito em (6:12-17), não é apresentado
detalhadamente senão quando chegamos a (20:11-15). Apesar do gozo final dos
redimidos já ter sido insinuado em (7:15-17), não encontramos uma descrição
detalhada senão quando chegamos em (21:1-22:5).
• De que lado estamos nesta guerra milenar? Do lado de Cristo e da igreja ou do lado
do dragão e seus agentes?


Introdução

Caráter do livro

Este livro, assim como o restante do Novo Testamento, foi redigido originalmente em grego; começa com a mesma palavra do título: apokálypsis, que significa “revelação” (1.1). João, o autor, se serve dela para pôr em destaque o caráter profético do seu escrito (1.3; 10.11; 22.7,9,10).

O Apocalipse (= Ap) é uma mensagem dirigida, em primeiro lugar, a igrejas concretas, a comunidades cristãs contemporâneas do escritor. A elas ele anuncia que Cristo cumpriu, em todos os seus termos, o plano redentor preparado por Deus. Mas o valor dessa mensagem vai além da época do profeta; tem um alcance geral: Cristo, vencedor do mal e da morte, associa a sua própria vitória a todos os crentes, já aqui e agora, enquanto ainda estão sujeitos às realidades do mundo atual.

O Apocalipse testifica a respeito da ressurreição de Jesus Cristo, acontecimento fundamental da fé e do anúncio do evangelho (cf. 1Co 15.14-17) e sinal da presença do Reino de Deus. É um testemunho expresso em uma linguagem característica, rica em símbolos, imagens e visões, elementos com os quais o autor compõe uma espécie de drama cujo âmbito é o universo inteiro.

Essa linguagem corresponde ao gênero literário chamado “apocalíptico” (ver a Introdução a Daniel). Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías (caps. 24—27), Joel (cap. 2), Ezequiel (caps. 1; 40—48) e, sobretudo, Daniel (caps. 7—12) e Zacarias (caps. 1—6), utilizaram esse gênero literário, o qual alcançou a sua maior divulgação nos meios judaicos a partir do séc. II a.C.

A literatura apocalíptica

A literatura apocalíptica judaica surge em circunstâncias especialmente angustiantes, como quando o povo se acha submetido ao poder político e militar de alguma nação estrangeira. Esta era a situação no séc. I d.C., quando a Palestina estava dominada pelo Império Romano. Naquele momento, as leituras apocalípticas alentavam as pessoas e renovavam as suas esperanças com descrições de um futuro próximo, em que a vitória gloriosa de Deus sobre todos os seus inimigos haveria de inaugurar para Israel uma era de paz e bem-estar sem fim.

Autor e data de redação

O Apocalipse de João aparece, pois, em uma época crítica. Nesse caso, crítica para os cristãos, os quais, com idêntica força moral dos judeus, se opunham ao paganismo de Roma e à religião estatal, expressa no culto ao imperador divinizado. Este era um culto que, com caráter oficial e obrigatório, se celebrava em altares e templos erigidos tanto na capital do Império como nas suas províncias mais distantes. Os cristãos, ao se recusarem a tomar parte naquelas cerimônias, foram considerados inimigos de Roma e foram perseguidos até a morte.

João, o autor do Apocalipse, também padeceu vítima da perseguição. Provavelmente, próximo do final do governo de Domiciano (81-96 d.C.), tenha sido desterrado para a “ilha chamada Patmos” (1.9), onde escreveu o seu livro entre os anos 93 e 95.

Teologia do Apocalipse

João identifica a si mesmo como profeta (10.11; 22.9) e denomina de “profecia” a sua mensagem (1.3; 22.7,10,18-19); mas, diferentemente dos profetas do Antigo Testamento, o que ele proclama é a esperança no Cristo ressuscitado, “aquele que é, que era e que há de vir” (1.8). Cristo, o Messias, é “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (19.16), é “o Verbo de Deus” (19.13), que vive para sempre (1.17-18). O seu regresso, já iminente (22.6-7), assinalará o princípio de um “novo céu e nova terra” (21.1), de uma nova criação, para a qual se orientam as expectativas do povo crente, porque nela Deus terá o seu trono (20.11; 22.1,3), e “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor” (21.4).

Composição literária

A composição literária deste livro, o último da Bíblia, tem sido analisada de diversos pontos de vista, e são muitas as propostas que têm sido feitas para elaborar um esquema coerente dele.

A divisão do Apocalipse em duas seções principais é, provavelmente, a mais simples. A primeira seção (1.9—3.22), que se caracteriza pelas cartas dirigidas às sete igrejas da província romana da Ásia (1.4,11), contempla a realidade da igreja na perspectiva da sua vida e da sua atividade no mundo presente. A segunda seção (4.1—22.5) é formada por uma complicada série de visões, cujo argumento se desenvolve no céu. Sobre esse fundo se vão revelando as coisas que hão de acontecer no final dos tempos, quando Deus tiver manifestado o triunfo do seu Reino eterno. Um prólogo (1.1-8) e um epílogo (22.6-21) completam o texto.

Outra análise possível parte da observação de que, entre os símbolos do Apocalipse, há alguns que ocupam um lugar proeminente pela frequência da sua aparição, como, p. ex., o número sete, que representa a perfeição dos seres e das coisas. O sete é constante nos conjuntos de espíritos, candeeiros, igrejas, estrelas, selos, trombetas e pragas.


Outros Apocalipses


O recuperado Apocalipse de Pedro ou Revelação de Pedro é um exemplo de um texto simples e popular do cristianismo primitivo do século II dC. É mais um exemplo da chamada literatura apocalíptica com tons helenísticos. O texto existe em duas versões incompletas de um original grego perdido, uma em grego koiné1 e outra em etiópico2 que divergem bastante. O manuscrito grego era desconhecido até que foi descoberto durante escavações por Sylvain Grébaut na estação de 1886-1887 numa necrópole no deserto em Akhmim, no Alto Egito. O fragmento consiste em folhas de pergaminho de um versão grega cuidadosamente depositada no túmulo de um monge cristão no século VIII ou IX dC. O manuscrito está atualmente no Museu Egípcio, no Cairo. A versão etiópica foi descoberta em 1910. Antes disso, o texto era conhecido apenas pelas frequentes citações em textos cristãos mais antigos. Além disso,alguma fonte perdida comum seria necessária para explicar as similaridades com outros escritos apocalípticos, como o Apocalipse de Esdras, o Apocalipse de Paulo e a Paixão de Santa Perpétua.
O Apocalipse de Pedro está estruturado como um discurso do Cristo ressucitado aos seus fiéis, oferecendo uma visão primeiro do Céu e depois do Inferno a Pedro. Na forma de uma nekya4 ele prossegue com riqueza de detalhes sobre as punições do Inferno para cada tipo de crime, posteriormente descritos por Hieronymus Bosch, e os prazeres dados no Céu para cada virtude. No Céu, segundo a visão:
As pessoas tem uma pele branca como leite, cabelos encaracolados e são geralmente bonitas.
A terra está repleta de flores e especiarias.
As pessoas vestem roupas brilhantes, feitas de luz, como anjos.
Todos cantam suas orações em coro.
Cada uma das punições na visão corresponde às ações pecaminosas passadas, numa versão da noção judaica da lex talionis, ou Olho por olho, em que a punição deve ser adequada ao crime . Algumas das punições no Inferno são:
Blasfemos são pendurados pela língua
Mulheres que se enfeitam para o adultério são penduradas pelo cabelo sobre um brejo borbulhante. Os homens que tiveram relações adúlteras com elas são pendurados pelos pés, com a cabeça no brejo, perto delas.
Assassinos e os que concordam com ele são colocados num poço onde criaturas rastejantes para atormentá-los.
Homens que assumem o papel de mulheres de modo sexual, e lésbicas, são "tocados" morro acima por anjos e então jogados ao fundo novamente. Então eles são forçados a subir novamente, num ciclo sem fim, até o seu destino final.
Mulheres que tiveram abortos são atiradas num lago formado pelo sangue e vísceras de todas as outras punições, até a altura do pescoço. Elas também são atormentadas pelos espíritos de suas crianças não-nascidas, que atiram um "brilho de fogo" nos seus olhos.
Incidentalmente, estas crianças não-nascidas são "entregues aos cuidados de um anjo responsável", por quem elas são educadas e "crescem".
Aqueles que emprestam dinheiro e cobram "usura sobre usura" devem permanecer de pé num lago com sangue e podridão até os joelhos.
“O Apocalipse de Pedro mostra um incrível relacionamento em idéias com II Pedro. Ele também apresenta notáveis paralelos com o Oráculo Sibilino6 enquanto sua influência foi conjecturada, quase com certeza, nos Atos de Perpétua e nas visões narradas nos Atos de Tomé e na História de Barlaão e Josafá. Certamente foi uma das fontes do Apocalipse de Paulo. E, direta ou indiretamente, pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais dos outros mundos."7
.Há também uma seção bastante controversa que explica que no fim, Deus salvará todas as almas pecadoras dos sofrimento do Inferno:
“Meu Pai dará a eles toda a vida, a glória e o reino eterno...É por causa deles que acreditaram em mim que eu vim. E é por causa deles que acreditaram em mim que, a seu pedido, eu terei pena do homem..."8
Assim, os pecadores serão finalmente salvos pelas orações dos que estão no Céu. Pedro então ordena seu filho Clemente a não falar sobre esta visão pois Deus havia pedido a Pedro para mantê-la secreta:
“[e Deus disse]...tu não deves contar o que ouvistes aos pecadores pois eles transgredirão mais, e pecarão.



Ilha de Patmos

A ilha de Patmos, hoje denominada Paloma ou Palmosa, é uma ilha do Mar Egeu, próxima à costa da Ásia Menor.
Conta apenas 40 Km² de superfície, sendo seu solo montanhoso, vulcânico, sem rios e pouco fértil.
Ao tempo do império romano, Patmos era a ilha do desterro dos criminosos, principalmente políticos.João foi para lá banido no ano 94 a.D., por ordem do imperador Domiciano, o tipo de exílio a que João foi submetido era Relegatio, ou seja, por um tempo determinado, podendo ser, inclusive, por toda a vida, contudo, sem perda de posses ou direitos, para que naquela ilha, afinal perecesse como um dos indesejáveis do império.Como Patmos era praticamente isolada do resto do mundo, tornara-se, para João, um homem de aproximadamente noventa e cinco anos, altamente sociável com costumes nobres, inteligência refinada e aspirações religiosas elevadas, numa prisão muito mais cruel, pois, o mesmo, não teria como testemunhar de Jesus na solitária Patmos.Na opinião de Domiciano, o amado ancião não resistiria por muito tempo os maus tratos do exílio, por fim, o tédio, finalmente, poria termo definitivo à sua vida.No entanto, tudo quanto o ímpio Domiciano, induzido pelo inimigo, planejara para calar a voz do fiel amigo de Cristo, fracassou, pois João, nessa ilha rochosa do Mar Egeu, recebeu as mais extraordinárias revelações de Cristo para Sua igreja, que são todas as pessoas!
E não foi somente isso que aconteceu! João, o discípulo amado, retornara a Éfeso, na Ásia Menor, após ter sido liberto do exílio, tornando-se, talvez, a maior testemunha de Jesus em todos os tempos.
Perceba como isto aconteceu. Ao invés de João morrer de tédio, o ímpio Domiciano foi assassinado a 18 de setembro de 96 aD., por Stephanus, fato que faz de Nerva imperador.
Como sucedia usualmente, os presos políticos e por razões religiosas ganharam a liberdade, dessa maneira, João retorna ao continente indo residir em Éfeso.





segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Epistola de Judas

Carta de Judas


Introdução

A Epístola de Judas (= Jd), ainda que breve, tem um forte caráter polêmico. Revela no autor um ânimo resoluto de fazer frente a “certos indivíduos” indesejáveis, que dissimuladamente infiltravam na igreja ensinamentos contrários ao evangelho (vs. 4-7,14-15,23). Não sabemos de que pessoas se tratava, nem se estavam relacionadas com alguma doutrina conhecida do pensamento religioso da época. Mas está claro que Judas não se refere a um perigo meramente potencial, procedente do mundo exterior pagão, mas a algo que havia começado a danificar interiormente a igreja (ou, pelo menos, a comunidade destinatária imediata da epístola).
A dureza de linguagem, característica deste texto, revela a preocupação do autor. Este adverte sobre as consequências da confusão espiritual e da depravação moral que podiam arrastar pessoas ingênuas aos ensinamentos e ao comportamento dos falsos mestres contra os quais escreve.Era um dano cuja gravidade era acentuada pelo fato de que aqueles que o causavam se denominavam cristãos: eram indivíduos que participavam nas “festas de fraternidade” (lit. ágape) da congregação (v. 12), mas que, arrastados pela sua própria sensualidade (v. 19), haviam caído na devassidão. Por isso, Judas os chama de “ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus” (v. 4), que murmuram e se degradam, sendo “aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (v. 16). Acusa-os de negar a Deus como “o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (v. 4); de rejeitar o “governo” e difamar as “autoridades superiores” (v. 8); de causar divisões e de não ter o Espírito de Deus (v. 19).
Judas apoia as suas palavras com figuras e representações do Antigo Testamento: Sodoma e Gomorra (v. 7; cf. Gn 19.1-24); o arcanjo Miguel (v. 9; cf. Dn 10.13-21; 12.1); Caim, Balaão e Corá (v. 11; cf. Gn 4.3-8; Nm 22.1-35; 16.1-35) e “Enoque, o sétimo depois de Adão” (v. 14; cf. Gn 5.21-24). Também faz alusão a algumas tradições judaicas não bíblicas (vs. 6,9,14-15).

Um outro comentarista disse as seguintes palavras:
A Epístola de Judas, a última das epístolas "gerais" ou "católicas", diz que foi escrita por Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago. A disputa sobre a autenticidade dessa reivindicação é tão antiga quanto Eusébio, o qual colocou esta carta, ao lado de Hebreus por considerá-la suspeita. Entretanto, as evidências internas historicamente sadias apóiam a veracidade do texto. Mateus 13:55 e Marcos 6:3 citam Judas e Tiago como irmãos de Jesus. Já que Tiago foi identificado de maneira tão simples nesta epístola, é uma evidência de que era irmão de Jesus. Alguns mestres alegam que "Judas" era apelido ou pseudônimo literário, mas isto é uma questão em aberto. Além de ser o autor desta carta, Judas não tinha reputação especial ou autoridade dentro da igreja primitiva; portanto poucas razões existiriam para se falsificar uma carta usando o nome de Judas. Embora a data da composição não possa ser fixada com certeza, não seria inexato se a colocássemos na última parte do primeiro século. Está no Cânon Muratoriano (segundo século) e foi mencionada por Tertuliano, Clemente e Orígenes (terceiro século). Embora sofresse de um status diminuído por causa de suas citações dos livros não canônicos, Enoque e Assunção de Moisés, seus direitos e inclusão no cânon foram universalmente reconhecidos em 350 A.D.
Propósito. Ao que parece uma carta geral aos cristãos do primeiro século, a Epístola de Judas adverte contra a incipiente heresia do Gnosticismo, uma filosofia que faria pronunciada distinção entre a matéria, inerentemente má, e o espírito, bom. Tal sistema de pensamento tinha sérias implicações para a vida e doutrina cristal. Desafiava a doutrina bíblica da criação. E dava lugar à idéia de que o corpo de Cristo foi apenas aparente, não real, pois se Cristo tivesse um corpo real, teria sido mau. Nos seus efeitos sobre a ética cristã, o Gnosticismo provocou dois resultados inteiramente diferentes: de um lado, o antinominianismo, a crença de que não há obrigação de se obedecer à lei moral, e de outro, uma forma de abuso do corpo para promoção da espiritualidade. As Escrituras se opõem à ambas. Pode-se deduzir da epístola que os leitores eram culpados, em diversos graus, de rebeldia contra autoridade, irreverência, conversa presunçosa e um espírito libertino. O tom de Judas é polêmico, pois ele repreende os falsos mestres que enganam crentes instáveis e corrompem a mesa do Senhor.


Capítulos 1-25

 1,2 Judas identifica-se como o escritor, descreve o seu relacionamento com Cristo e Tiago, e define seus leitores, tudo em uma só curta sentença. Judas é um nome popular na tradição hebraica. Uma palavra freqüentemente empregada por Paulo – servo ou escravo – foi usada e fala da devoção de Judas a Cristo. O relacionamento consangüíneo do escritor com Jesus é de importância secundária. A soberania de Deus e a centralização em Cristo são expressas na eleição e preservação dos leitores. O verbo que foi traduzido para guardados aponta para a volta de Cristo.A trilogia de Judas, misericórdia, paz, e o amor, é notável nas escrituras como grandes atributos.

3,4 O propósito da carta está explicitamente declarado, e o ponto de vista discutido está indicado. Judas não ordena asperamente mas apela com amor a que esses cristãos se lembrem da comum salvação. O advérbio grego hapax, uma vez (por todas, Hb. 6:4; 10:2; I Pe. 3:18), afirma a finalidade da revelação de Deus em Cristo na história redentora. É o ponto fixo, não repetível, de nossa fé. Esta revelação alcançou o seu alvo, pois foi entregue aos santos.
O motivo da carta foi a penetração de pessoas ímpias na comunhão da igreja. Esses heréticos estão sujeitos a quatro acusações: entraram secretamente ; já estavam destinados à condenação; são ímpios, isto é, irreverentes; e negam a Cristo como Mestre e Senhor. Negar é positivamente descrer do que Cristo testemunhou a Seu respeito. O antinominianismo gnóstico implicava em dissimulação (lascívia), palavra que traz em si a idéia de devassidão sexual.

5,6 Novamente foi usado o advérbio hapax (cons. v. 3); aqui se refere ao conhecimento que os leitores têm do Evangelho. O argumento de Judas é que a profissão de fé de um homem não coloca-o em posição de justo diante de Deus. A possibilidade de escorregar está ilustrada pelo exemplo dos israelitas incrédulos que foram salvos do Egito mas subseqüentemente destruídos,agente sempre deve lembrar que o Deus da salvação também o Deus da destruição ou seja, ou servimos ele para sermos salvos ou servimos ao mundo para sermos destruídos.
A ilustração seguinte é a queda dos anjos rebeldes, que se desviaram de sua vocação exaltando-se. A linguagem de Judas aqui talvez reflita a influência do livro de Enoque, o qual contém uma descrição elaborada dos anjos desobedientes. Gênesis 6:1-4 fornece a narrativa bíblica original.

7,8 Finalmente, Judas cita a história de Sodoma e Gomorra para reforçar sua imagem. Essas cidades, através das Escrituras, são simbólicas do juízo divino executado pelo fogo. Assim o seu destino foi uma figura do destino dos crentes professos que não perseveram na justiça.A irreverência é o pecado principal dos homens ímpios do versículo. O sentido da palavra autoridades, ou os gloriosos não está claro; pode se referir aos líderes cristãos.

9,11 Judas reforça o seu pedido de reverência citando a história apócrifa de Miguel e o diabo, extraída da pseudoepigráfica Assunção de Moisés. Embora Judas citasse este livro e o de Enoque, não se pode apoiar a inferência de que ele lhe concedesse o status canônico ou historicidade. A moral que Judas aponta é que Miguel mostrou reservas até mesmo em seu relacionamento com o diabo, enquanto os falsos mestres não exibiam reverência por qualquer autoridade.
Faltando a percepção espiritual para reconhecer "os gloriosos", estes homens ímpios os escarneceram. Com ironia Judas destrói a afirmação gnóstica de superioridade espiritual professada por eles, dizendo que eles possuem somente instintos de animais irracionais. O conhecimento adquirido exclusivamente através dos sentidos naturais, e a dependência no mesmo, conduz sem dúvida alguma à destruição.
Judas pronuncia um ai!, empregando novamente uma tríade de exemplos históricos – Caim, Balaão e Coré. Caim é tipo de injustiça, Balaão do espírito da mentira e cobiça (cons. Nm. 22-24) e Coré, da rebelião dos descontentes contra autoridades devidamente constituídas (cons. Núm. 16). Esses tipos de pecados solapam a saúde espiritual de toda a igreja e destroem aqueles que os praticam.

12,13 O autor intensifica a condenação dos falsos mestres voltando-se das analogias bíblicas para as naturais, das quais apresenta cinco. Festas de fraternidade eram refeições feitas em conexão com os cultos de adoração ou a Eucaristia, e sua, intenção era aumentar a comunhão cristã dos crentes, fortalecendo seu senso de união com Cristo. Ao que parece os heréticos gnósticos corromperam tais festas em orgias vorazes, pervertendo assim seu propósito. Eles se alimentavam sem se preocupar com o bem-estar espiritual da Igreja. Nuvens sem água descreve especialmente esses homens; não tinham preocupação espiritual, e eram carregados pelo vento como se não tivessem peso. O outono é a estação dos frutos. Mas os falsos mestres não produzem fruto, e tais árvores, estando duplamente mortas, estão destinadas à destruição.
 As vidas dos ímpios são como as inquietas ondas bravias do mar, as quais sujam de detritos as praias. Tais vidas, além de produzirem condenação futura, são também motivo presente de vergonha e ignomínia. Por último, Judas descreve os heréticos como estrelas errantes. Ele dá a entender que sua existência é sem alvo e sem utilidade, a qual terminará em eterno esquecimento. Enoque 18:12-16 pode ter influenciado o pensamento de Judas aqui.


14,15. Nestes versículos surge um problema por causa das citações de Enoque. Judas diz: Enoque, o sétimo depois de Adão. A dificuldade é que Judas, ao que parece, atribui esta profecia do Enoque apócrifo ao Enoque de Gênesis 5. Uma vez que não há citação bíblica de nenhuma profecia de Enoque, ou Judas considerava canônico o Enoque apócrifo, ou cometeu um erro óbvio. Contudo, a solução do problema pode se encontrar no fato de que esta alegada profecia seja uma citação não de uma simples passagem de Enoque, mas de diversas, e é provável que Judas também citasse a frase "o sétimo depois de Adão" de Enoque 60:8. Assim Judas não estada se referindo ao Enoque de Gênesis 5, mas referindo-se inteiramente, até mesmo na linha introdutória, às palavras encontradas no Enoque apócrifo. Embora a profecia não tenha status canônico, suas predições estão em paralelo com e apoiadas por numerosas passagens bíblicas, tais como Mt. 25:31-46.

16,19 Depois de afirmar o destino dos falsos mestres, Judas descreve o caráter deles de três maneiras. São resmungadores, isto é, lamurientos furtivos; são descontentes, cujo único guia é a sua paixão ; e são dados à exibição barulhenta, tendo em vista o seu próprio lucro. A linguagem reflete o pensamento da Assunção de Moisés 5:
Embora esta carta fosse escrita a cristãos, nos versículos 5-16 Judas definiu os erros dos falsos mestres. Agora volta sua atenção para seus leitores em uma exortação direta. Eles evitarão o erro lembrando-se das palavras proferidas pelos apóstolos de que os falsos mestres apareceriam logo dentro da própria igreja. Com isso poderão devidamente "batalhar pela fé" (v. 3) II Pedro 3:3 usa linguagem quase idêntica. Ambas as passagens parecem referir-se a uma tradição oral corrente sobre os ensinamentos apostólicos. No último tempo estabelece a atmosfera e destaca que no final da dispensarão as pessoas se caracterizarão por uma desesperada falta de espiritualidade. Escarnecer é ter atitudes ímpias para com as coisas santas, e escarnecedores (zombadores) não obedecem à lei do Espírito, mas seguem à lei da paixão da carne.Judas continua sua acusação contra os falsos mestres, enquadrando-os em dois grupos: são divisivos e sem o Espírito de Deus. O verbo grego, promovem divisões, sugere um estabelecimento de linhas demarcatórias que dão lugar a uru espírito faccioso. Além disso, revela um senso de superioridade da parte destes falsos mestres. Com sutil ironia Judas acusa os gnósticos, que se consideravam espirituais, de não ter o Espírito. Ele afirma que a espiritualidade é uma qualidade de vida produzida pelo Espírito de Deus, e não pelo exercício religioso só conhecido pelos poucos iniciados.

20,21 Mais uma vez um desafio direto é feito aos leitores. A pureza de vida começa com a sã doutrina, isto é, a "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (3). A chave para o significado de edificando-vos se acha na frase seguinte, orando no Espírito Santo. A forte implicação é que os homens verdadeiramente espirituais não são justos aos seus próprios olhos nem desprezam os outros (19), mas aqueles que oram no Espírito Santo. Arndt usa a seguinte paráfrase: "Guarde-se do perigo do mal, permitindo Deus demonstrar o Seu amor para você no futuro também". O meio ambiente atual do crente é o amor de Deus e a expectativa futura é a garantia de vida eterna com Cristo Jesus.

22,23 O texto grego é de difícil interpretação em Judas 22, 23. No v. 22 o verbo de maior evidência é eleeo, "socorrer", "mostrar compaixão". O objeto da compaixão é aquele que duvida. Assim, nesta passagem, Judas insiste com os cristãos a atender às dúvidas intelectuais e morais dos afetados pelos falsos mestres. O fim em vista não é a expulsão e condenação dos duvidosos mas sua restauração à comunhão. Zacarias 3:2-4 pode ter influenciado os pensamentos de Judas aqui, pois ele escreve sobre arrebatá-los do fogo. Fogo sugere paixão sensual, mas é mais plausível que seja uma alusão ao juízo eterno. É difícil saber se o escritor pretendia traçar uma nítida distinção entre as duas classes de pessoas com o duplo uso de alguns, ou simplesmente usou a expressão no sentido enumerativo. Seja como forem entendidas as palavras, a atitude do cristão deve ser de misericórdia para com o pecado, acoplada com ódio pelos pecados dele.

24,25. Uma das maiores e mais sublimes bênçãos do N.T. é esta que se encontra no final desta curta epístola. Duas outras bênçãos paulinas comparáveis são a de Rm. 16:25 e I Tm. 6:14-16. Vital a todas as exortações feitas aos crentes é o lembrete dos recursos infinitos do próprio Deus, único que tem competência para nos guardar de tropeçarmos nesta vida e atraí-los a Ele próprio no último dia. Ele aperfeiçoará a obra da santificação para que os crentes sejam irrepreensíveis, ou imaculados. Esta palavra faz lembrar a descrição dos animais sacrificados no V.T. Judas 25 ensina as duas coisas, a singularidade de Deus e a igualdade de Jesus Cristo com Deus Pai.
Assim ele milita contra a idéia de que a divindade de Cristo foi uma invenção da igreja pós-apostólica. Deus é chamado sete vezes de Salvador no N.T. Aqui o Seu poder salvador está comprovado na Pessoa do Seu Filho, o qual a Igreja reconhece como "Senhor", isto é, Deus. A última atribuição de glória, majestade, domínio e autoridade é o testemunho de Judas do benevolente caráter de Deus, o qual operou a nossa salvação por meio de Cristo.